Publicado em: 08/10/2018 - Autor: Roselene Borges Kopak

A convivência, isto é, a relação familiar mudou de forma profusa nos últimos 50 anos. A mudança é tanta que muitos vivem embaixo do mesmo teto sem nem ao menos saberem como estão, se felizes ou tristes.

Mas, o que mudou, de fato, nestes pequenos ou grandes núcleos familiares? Na verdade, pequenos hábitos deixaram de ter a importância que tinham e outros foram tomando conta e ocupando o lugar de hábitos saudáveis e prazerosos. Um desses hábitos simples (que a maioria das instituições familiares tinham) era o horário das refeições, e disso os nossos antepassados não abriam mão. Todos, sem exceção, obedeciam. O café da manhã, o almoço e o jantar tinham horário para serem servidos e todos, família ou visitantes, tinham que sentar-se à mesa. Não havia essa de comer em frente à TV, computador... e celular (mesmo porque não existia). Seria considerado uma grande falta de respeito, seja com os mais velhos, seja consigo próprio, pois a hora da alimentação era tido sagrado. E o mais interessante desse encontro rotineiro é que os mais velhos, em especial os pais, conseguiam “decifrar” o que cada membro estava passando. Quando ocorria algum conflito durante o dia, ou na semana, isso era resolvido imediatamente.

O que é família?

Designa-se por família o conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco, de ancestralidade ou de afetividade e vivem na mesma casa, formando um lar. Uma família tradicional é normalmente formada pelo pai e mãe, unidos por matrimônio ou união de fato, e por um ou mais filhos, compondo uma família nuclear ou elementar.

Interação: - Os meios de comunicação conseguem promover uma interação e integração com pessoas de longe, de perto, ou até mesmo de fora do nosso convívio, de qualquer parte do mundo.  

Hoje conversamos e sabemos muito mais de pessoas que nunca vimos do que de nossa própria família. As conversas “cara a cara” eram mais produtivas.

Vamos voltar ao passado, no tempo de nossos avós. Naquela época, a internet e o computador não existiam. O que as crianças costumavam fazer durante o dia eram as brincadeiras tradicionais, como soltar pipa, jogar bola (e muitas vezes a bola era feita de papel), carro de lomba confeccionada pelas crianças com ajuda dos pais, andar a cavalo, bicicleta, tomar banho de rio ou cachoeira. Um brinquedo muito conhecido das meninas, eram as bonecas, algumas de pano, outras, quando as famílias tinham condições financeiras melhores, vinham das lojas: as famosas bonecas de porcelana. Quem se lembra da boneca de milho? Estas podíamos ter muitas, o problema é que no dia seguinte elas estavam murchas e sem os cabelos. Então, perdia-se a boneca e a espiga de milho, mas, ainda assim, era emocionante.

Não estou falando que naquela época as famílias não tinham poder aquisitivo. Muitas moravam longe, iam para o centro da cidade poucas vezes – duas a três vezes por ano – buscar somente o necessário, porque tinham ali onde residiam quase tudo o que precisavam pra viver bem.

Fora as brincadeiras, as crianças tinham desde cedo suas obrigações: cuidar dos animais, cuidar da horta e do jardim, colher frutas no pomar, dar comida para a criação (aves, porcos etc.) Essas obrigações, na maioria das vezes, eram feitas com alegria, pois o cuidar era por amor.

Tal responsabilidade era incutida na criança e, conforme ela crescia, cresciam também as responsabilidades. As obrigações eram transferidas de uma criança para outra. Isso trazia para elas a sabedoria de cada idade e os irmãos criavam um elo natural e normal de amizade e cumplicidade.

Quanto aos mais velhos (anciões), existia respeito e muita admiração. Era instigante ouvir histórias que essas pessoas contavam, geralmente em dia de chuva que não tinha muito o que fazer, ou à noite, antes das crianças irem se deitar. Os pais relatavam também suas histórias de vida, de como as coisas eram difíceis, por exemplo, para se conquistar algo. No entanto, quando se realizava essa conquista, não existia medo e, sim, a valorização e um novo projeto, um novo sonho. Tudo isso era compartilhado com toda a família até o momento do filho se tornar adulto e, muitas vezes, sair de casa para estudar em uma cidade grande.

Quando falamos em família, estamos falando de uma pequena célula que precisa ser ajustada sempre. Mudamos os meios, os lugares, a quantidade... Mudamos muitas coisas, mas precisamos ordenar, adaptar os bons costumes e a tradição. Toda família tem uma tradição. Qual ou quais são as suas?

Quem não se lembra dos cafés da manhã, feito com bolinhos de chuva, queijo, salame, polenta frita em cima da chapa do fogão a lenha. Ah, aquele café com leite fresquinho, com todos em volta da mesa. Parecia uma festa. A oração era uma rotina sagrada: sempre antes das refeições, em agradecimento pela saúde, pelo trabalho, pelo estudo, pela família, e, em especial, pelo alimento. Em seguida, a conversa rolava solta e todos faziam a refeição numa harmonia perfeita. Ao terminarem a primeira refeição, o famoso e farto café da manhã, todos saiam para as obrigações do dia. Vale lembrar que toda a comida foi preparada em muitas mãos: na mesa farta o “colaborar”, se fez por todos os membros.

Enfim, depois de se fartarem, logo cedinho iam para a lida. Para as pessoas que tinham suas obrigações dentro de casa, já era o momento de lavar a louça e ir adiantando o almoço (lavar as verduras, picar os legumes etc.). Normalmente, em uma família grande (que por sinal era normal no passado), as tarefas de casa eram divididas. Por exemplo, a mãe e avó ou uma ajudante ficavam com a incumbência do almoço e do jantar. As filhas faziam as camas, varriam e passavam pano no chão, lavavam e passavam as roupas. Os filhos carpiam o quintal, o jardim, plantavam horta, alimentavam os animais, cortavam lenhas, entre outros afazeres.

Nessa primeira parte do dia, entre o café da manhã e o almoço, as horas passavam rapidamente. Meio-dia era servida a comida mais maravilhosa do mundo! Sabe por quê? Porque, além de feita com amor, não tinha o “veneno” que hoje existe nos alimentos.

Agora terminado o almoço, todos de volta ao trabalho até o final da tarde. No entardecer, além dos outros compromissos do dia, tinham ainda que alimentar os animais grandes e os de pequeno porte também. Enfim, as obrigações eram contínuas, e vez ou outra surgia algo mais – ou a menos para se fazer, mas todos sabiam o que e como realizar suas funções.

As casas normalmente tinham uma área grande, onde todos sentavam antes do jantar para discutir e fazer uma avaliação de como foi o dia de todos os integrantes daquela família, sem deixar de lado as crianças que faziam questão de relatar seus afazeres domésticos e seu dia também na escola. Sim, porque todos estudavam, ninguém ficava fora da sala de aula. Enquanto a conversa corria solta, sempre tinha alguém responsável em preparar mais um banquete. Ah, sim. Antigamente, toda refeição era um banquete! Assim, com todos reunidos em volta de uma grande mesa, o jantar corria como de costume, todos conversavam, deliciavam-se com a comida, trocavam conversas variadas, muitas vezes engraçadas, às vezes tristes (afinal, em qualquer tempo existem tristezas), e, num ritmo normal e natural, traçavam objetivos para o dia seguinte. Parece brincadeira, mas não é, não. Todos iam para suas camas sabendo como seria o dia seguinte. Muitas famílias ainda costumavam fazer o evangelho e agradecer pelo dia que todos tiveram e pedir pelo dia seguinte. E antes de irem dormir, todos os filhos – independentemente da idade – pediam a benção para os pais e prontamente eram abençoados.

As famílias de 50 anos atrás tinham em seus finais de semana a mesma rotina, com exceção de domingo, pois era dia de igreja e dia de acordar um pouco mais tarde, mas não muito, afinal, os bichos não sabem esperar.

Dessa forma, cada família, com sua crença, seguia também suas tradições em relação à religião de forma natural. Normalmente, membros da mesma família se encontravam nas mesmas igrejas e templos.

A minha família, por exemplo, ia sempre à missa. Lá, as crianças ajudavam o padre e faziam catequese aos sábados.

Era um momento de encontro. As famílias interagiam e, logo após a missa, muitas famílias esperavam para conversar com o padre, pois ele era como um psicólogo familiar: ouvia os problemas e dava conselhos. Muitas vezes, os domingos também reservavam festas e encontros de família, com tardes de música no salão e o entardecer era finalizado com uma volta para casa harmoniosa e revigorados para uma nova semana.

Neste pequeno relato, podemos observar que as famílias viviam numa simplicidade, mas dentro de uma organização planejada mesmo naquela época, afinal, planejavam e discutiam o que era bom para todos dentro daquele núcleo familiar.

Recordo de haver uma grande mesa onde todos se reuniam para fazer as refeições e fazer planos. Onde nós e nossos filhos fazemos hoje as refeições? Onde conversamos e planejamos o dia de amanhã? Onde fazemos, estudamos e praticamos o evangelho? Nossos filhos costumam pedir a benção? Nossos filhos são abençoados por nós, seus pais? Nossos filhos têm obrigações de cuidar de alguém, ou de algo? Quem ou o que depende dos cuidados deles? Quando falamos NÃO para nossos filhos, eles entendem? Será que estamos deixando claro para nossos filhos o que é dever? E o que é comprometimento, ética e moral? Será que nossos filhos sabem o que é limite? Será que se voltássemos um pouquinho, mesmo que fosse ao tempo dos nossos avós, não poderíamos ensinar mais sobre o amor? Ah, o que é amor? Vamos fazer uma pausa e pensar exatamente como viviam estas famílias e como vivem as famílias hoje.

Hoje, nos deparamos com crianças com todo tipo de tecnologia, em todos os cômodos da casa. Além disso, os pais também dependem desta tecnologia para trabalhar e, muitas vezes, para continuar no emprego. Você consegue imaginar uma criança de 10 anos sem celular, sem tablete, sem computador? A conexão é diária e rotineira. Sim, nós estamos totalmente dependentes desta dita tecnologia. Nossa rotina diária, na maioria das vezes, é “primeiro”, acessar nosso e-mail e outras ferramentas que usamos como meios de comunicações com o mundo externo. De que maneira nos libertarmos desta corrida desenfreada e de todos esses equipamentos que surgiram para melhorar nossa vida?

Ora, alguém pode pensar “é assim que os internautas falam”, ou “é assim que somos hoje em dia”, mas será mesmo que melhorou nossas vidas? Em que sentido ela melhorou? Onde estão nossos filhos? E a dita depressão – por que cresceu tanto nos últimos anos? Quantas vezes nos sentamos à mesa para fazer uma refeição com nossa família? Será que conseguimos desligar a televisão para termos uma conversa com nossos filhos num momento de conflito? Que série nossos filhos estão estudando? Quem são seus amigos? Que lugares eles costumam frequentar? Do que eles gostam? Seu filme preferido, seu livro, seu jogo, sua comida, seu doce? Hoje, os pais conseguem ler nos olhos dos seus filhos quando eles estão com problemas, dificuldades ou até mesmo em conflitos?

Não que a tecnologia não ajude. Ajuda, sim, e muito, desde que usada corretamente. Afinal, não podemos ficar parados, inertes no tempo, acomodados. Temos que evoluir. Essa é uma regra natural da vida e até mesmo de sobrevivência. Mas será que não podemos usar a sabedoria dos antigos para interligar estes dois mundos de forma harmônica?

Precisamos de planejamento e organização quanto à vida familiar, em comunidade, em sociedade. Administrar o tempo (o tão famoso tempo) é dele que dependem a nossa caminhada, e cada segundo escrevemos nossa história. Não podemos deixar lacunas, porque o tempo irá cobrar as experiências vividas a cada instante, pois são a partir dessas que vamos desvendar, viver, aplicar, fazer o nosso futuro. O tempo desperdiçado, isto é, não aplicado de forma correta (com nossos filhos) pode gerar (no futuro) todos aqueles conflitos que falamos a pouco, um dos mais graves e considerado o mal do século XXI, a depressão, trazem os mais variados sintomas, as mais dolorosas tristezas que muitas vezes não dá tempo para ser tratada.

O que você pode fazer para o próximo, principalmente, para a sua família? A tristeza é um sintoma visível... Observe bem!

Vale lembrar que o compromisso de educar é da família e não da escola. O papel da escola é ensinar. Assim, cabe a instituição familiar manter o compromisso em relação a valores e ensinamentos que aprendemos em casa. Atualmente, muitas famílias tem repassado essa responsabilidade para profissionais, se eximindo do papel “chato”, mas fundamental no desenvolvimento do caráter de um ser humano e que, por vezes, pode se tornar uma lacuna em branco.  Assim, quando uma criança for buscar lá no seu subconsciente tais representações, não haverá essa informação (educação dos pais), poderá ficar perdido, procurando algo não vivenciado. Esse algo poderá ser a causa de inúmeros transtornos psicológicos.

Conflitos existenciais sempre existiram e sempre existirão. Você lembra quando começou a se questionar sobre eles? Não sabemos ao certo quando e qual o primeiro conflito surgiu, mas, de fato, eles são motivos de angústia e sofrimento.

Talvez, o que falta para muitas famílias hoje é a “grande mesa”, não somente para fazer as refeições, mas para juntamente com os membros da família, termos momentos de conversa franca, respeitosa e salutar. É o momento de desmistificar os dogmas que muitas vezes não explicamos para nossos filhos.

Quando proporcionamos aos nossos filhos um ambiente de conversa amigável, pode ter certeza de que ele não precisará procurar respostas para suas dúvidas em outro lugar. Afinal, sabemos bem que é muito fácil achar alguém mal-intencionado, ou de caráter duvidoso, “disposto” para esses momentos. Nós mesmos já encontramos pessoas assim em nossas vidas e sabemos o mal que elas podem causar, certo? E o que não queremos é que nossos filhos sofram ou tomem decisões erradas que, mais tarde, nos farão pensar: Onde foi que eu errei? Não conheço mais meu filho?

Se existirem aquelas lacunas que ficaram em aberto e que o mundo lá fora preencheu, infelizmente não há tecnologia avançada que volte o tempo ou nos ajude a deletar informações e situações vividas. Só quem está passando por um momento difícil sabe o que está sentindo e nada melhor do que nossos filhos terem a segurança de que estaremos ao seu lado se precisarem: de um conselho, de um abraço, de nossas mãos.

Esse trabalho socioemocional dentro de um lar, fará com que em determinado momento, eles terão subsídios para escolher o melhor caminho a seguir sozinhos. Pois não seremos eternos, no ritmo cíclico natural o nosso regresso antecede aos filhos.  

Mas uma grande mesa faz diferença! Principalmente se em volta dela estiver uma família reunida, confraternizando, compartilhando e resolvendo conflitos com amor, paciência, resignação.

Nossa vida é feita de obrigações, compromissos, deveres, comprometimento, mas, em especial, de amor. Muito amor. Quer alimento melhor que esse?

Quem fará parte da sua ceia?

 

Muita Luz !!!

Rotinas Saudáveis é uma empresa de consultoria que atende pessoas aplicando atividades de apoio para solução de conflitos. Muitas vezes entender um pouco mais sobre as fases da vida humana já é suficiente. Pense nisso!

 

Uma grande mesa