Publicado em: 15/10/2024 - Autor: Roselene Borges Kopak

“A perda de um pai revive todas as memórias daquela família, a dor naquele momento parece incurável”.

Um pequeno trecho da obra “A educação pelo amor e para o amor”, o capítulo 22 contextualiza a morte e o luto, onde os membros revivem memórias vividas na presença do pai ainda vivo.

A morte é uma das coisas que fatalmente acontece, mas como explicar ao coração o sentimento de perda?

Terminando o trabalho, Roberto foi ao hospital. Quando chegou, foi avisado que seu pai havia falecido poucas horas antes. Grossas lágrimas surgiram em seus olhos e, sem que percebesse, estava chorando copiosamente. Um enfermeiro, percebendo seu estado emotivo, convidou-o a se sentar e lhe trouxe um copo de água. Perguntou se ele estava bem. Roberto disse que sim, mas que não esperava fazer uma visita a seu pai e já não mais encontrá-lo vivo. Isso o deixou sem chão. Nunca imaginara que, ao receber uma notícia dessas, iria se sentir assim, solitário e sem chão. Levantou-se, agradeceu ao enfermeiro pela gentileza que certamente, em outros momentos, podia lhe parecer insignificante, mas que naquele ápice de dor o fez perceber que o valor de um simples copo de água e da atenção de um desconhecido fazia toda a diferença naquela hora de tanta dor e tristeza.

Roberto saiu e por alguns instantes foi absorvido pelos pensamentos daquele homem simples, amoroso, trabalhador e com princípios morais e éticos tão valiosos. A sua atitude e sua educação sempre foram pautadas no bem comum, no fazer o bem ao próximo.

Parecia que tinham lhe tirado seu porto seguro; parecia que, por algum motivo, estava sem saber que caminho tomar. Nunca isso lhe havia acontecido, pois ele sabia de tudo, sempre esteve à frente das decisões em sua vida.

Talvez o sentimento que se apossava do seu ser fosse para lhe mostrar que não havia mais decisões a tomar quanto ao seu pai, pois ele já não mais estava presente entre eles fisicamente. Agora só lhe restava tomar providências para os preparativos do adeus a seu pai. Naquele momento, fez-se presente em sua mente a imagem de um homem maduro, generoso, trabalhador e solidário com todos naquele bairro simples....

“Como consolar um coração quando se perde aquele que jamais lhe negaria consolo, aquele que a vida toda usufruiu da alegria e dos sorrisos quando triunfaram juntos, logrando uma vida em conjunto, na qual o respeito pela individualidade, mesmo que casados, se fez presente, alegrando-se com as conquistas do cônjuge, compartilhando desta realização pessoal como se sua fosse”.

Carlos se compadeceu e acolheu a mãe no colo, retribuindo o que a vida inteira ela lhe proporcionou, fosse nos momentos de dor, fosse nos momentos de imensa alegria; a gratidão se faz como um ato generoso e grandioso nos corações daqueles que já a exercitam.

Roberto, apesar da dor da perda do seu pai, sentia-se aliviado por encontrar no cemitério o terreno que desejava, pois, quando sua mãe partisse para o plano espiritual, poderia cumprir a sua promessa de deixar seus pais um ao lado do outro para sempre.

“Quando uma tomada é desligada aqui, a outra acende do lado de lá, e assim muitos podem continuar a caminhada juntos”.

Roselene Borges Kopak

Trecho da obra A educação pelo amor e para o amor.

Perder alguém que amamos é uma das situações mais difíceis que podemos enfrentar na vida. Fica o sentimento de vazio, tristeza e muita dor em nossos corações, que pode demorar muito tempo para amenizar. É muito difícil nos desacostumarmos com o amor, a presença, o carinho e a dedicação de uma pessoa amada, principalmente quando era ela que nos encorajava a ir em frente, era ela que nos fazia ver que a vida vale a pena ser vivida todos os dias mesmo diante das adversidades, era ela que nos fazia sentir importantes e, com certeza não mais vermos o seu sorriso, ouvirmos a sua voz e não termos o seu ombro amigo, é uma sensação muito dolorosa, que nos faz sentir impotentes diante dessa realidade que infelizmente não podemos mudar.

Mesmo sabendo que a morte é uma certeza inevitável, não fomos ensinados a lidar com ela. A palavra morte é muito pouco mencionada, mesmo que saibamos que isso um dia vai acontecer, acredito que não estamos preparados para lidar com ela, mesmo os que acreditam no reencontro pós túmulo sentem a dor da separação.

Ficamos com as memórias que vivemos, algumas nos encorajando a seguir em frente, outras nos fazendo refletir o valor da vida e, ainda outras nos remetendo a mudança de comportamento diante da vida. A morte de uma pessoa amada, querida, nos tira do trilho, mas muitas vezes é necessário para colocar aquele vagão que está descarrilhado no trilho novamente.

É admirável quando entendemos o propósito de Deus.

Roselene Borges Kopak

 

Alguns minutos o separou do último encontro